

Um pouco mais de educação
Não vai longe o tempo em que, na escola, os alunos ficavam ”aquietados” nas salas de aula, ouvindo o professor ditar o ponto ou copiando o ponto da lousa.
Pouco se falava. Perguntar era atitude não desejável, era feio.
-Como, você não entendeu o que o professor explicou?
Todos deveriam entender e aprender. Para ser um bom aluno era preciso ser, primeiramente, disciplinado isto é, não perturbar a aula com perguntas bobas ou conversar com os colegas do lado.
-Quem descobriu o Brasil, Pedrinho?
Mas, “fessôra” eu nem sabia que ele tinha sido coberto!
-Burrinho!
Saber de cor, decorar grandes textos ou informações e repeti-las na sabatina, era a meta do bom aluno: haja memória!
E dizem que a escola era risonha e franca. Para quem?
Mas com o passar do tempo as coisas foram mudando.
Mudando?
Novos conhecimentos, novas faculdades, novos professores, novos métodos, novas experiências educacionais, novos objetivos, nova participação do aluno, novas exigências do mercado de trabalho, nova sociedade, enfim, nova escola.
E chegamos aonde chegamos!
Grandes mudanças; acertos e erros. Ou mais erros do que acertos?
Afinal, quando o professor vai ser chamado para opinar e dar a sua contribuição para as mudanças desejáveis?
Hoje, todo educador sabe que deve estimular a participação do aluno na construção de novos conhecimentos, atitudes, conceitos, habilidades e valores, necessários a consolidação de uma sociedade mais igualitária e responsável. Lamentavelmente, não é o que se constata. “ Na prática a teoria é outra “.
Na maioria das vezes o aluno não encontra na escola o ambiente propício e os meios adequados para se expressar, de exercitar as suas aptidões, talentos, necessidades e sonhos, de construir o seu projeto de formação humana e de conhecimentos.
O que se verifica com frequência é um aluno desmotivado, desinteressado procurando apenas passar de ano e sair logo dessa escola chata.
A atual estrutura escolar não permite, na maioria das vezes, realização de um bom trabalho pedagógico: conseqüente,
exeqüivel e avaliável.
A escola não tem conseguido favorecer a interação e integração da sua clientela com a comunidade mais próxima e a mais ampla da sociedade e nem com os conhecimentos desejáveis. A escola perdeu a sua característica comunitária. Até pouco tempo ela atendia principalmente as famílias do bairro. Era um centro de referência para os moradores. Seus professores, funcionários e diretores eram conhecidos no bairro e se relacionavam com a maioria dos pais de alunos e com a comunidade de entorno.
Não precisamos ser saudosistas:- ah, antigamente!... Entendemos que os tempos são outros, mas entendemos também que há certas características, certos valores e conceitos da “escola antiga” que deveriam ser preservados e que devem e podem ser resgatados.
Hoje, com a “reorganização escolar” (reorganização, ora veja!) imposta, principalmente no segundo ciclo do ensino fundamental, verifica-se que um elevado número de alunos são moradores de bairros distantes da escola. É fácil constatar, na entrada e saída das aulas, muitos ônibus transportando alunos para suas distantes residências
Mais do que nunca hoje se tem a clareza de que a participação das famílias é de fundamental importância para o processo educacional. Entretanto, como implementar essa participação com famílias morando em bairros distantes.
É comum muitos pais aparecerem na escola no dia da matrícula ou da festinha de entrega de certificados ao final da quarta ou oitava série.
Não resta dúvida de que a escola deve elaborar e realizar projetos de participação comunitária possibilitando o bom relacionamento de pais, alunos, professores e comunidade em geral.
A escola deveria ser um centro de aglutinação de interesses da comunidade organizando encontros solidários, responsáveis e democráticos de natureza política, cultural, esportiva, profissional, social, etc.
Como, porem, iniciar esse processo com a atual estrutura escolar e com um professorado em grande parte, desmotivado, cansado, desmobilizado e sem poder de participação na elaboração desses projetos.
Em educação, como em qualquer área de atividade humana, não basta o conhecimento das coisas, fatos e situações, há, principalmente de se formar, valorizar e possibilitar a participação de lideranças engajadas com um bom projeto educacional.
Isso dá trabalho. Discutir e elaborar avanços com o professor dá trabalho. Não é fácil. Mas a maioria dos educadores tem informações e conhecimentos sobre as necessidades da sua clientela e dos apoios de que necessita. Quais os aspectos mais relevantes a serem abordados e encaminhados para soluções conseqüentes. Como alavancar o processo de mudança é a questão central. É necessário ter a grandeza responsável para iniciá-lo. É caminho sem volta.
Fácil é deixar como está para ver como é que fica!”deixa a vida me levar...”
Refletir é preciso.
José Raphael da Silva Rocha