

Simplesmente, simplícios!
Estamos vivendo em um mundo cada vez mais simples.
Hoje, basta clicar o controle remoto e mudar o canal na TV.
É fácil também ligar o fogão – a gás, lógico! . É simples tomar um banho de água quente, ou morna... ou descongelar rapidamente um alimento no micro ondas ; ou falar ao celular, agorinha, com a meninada que ainda não chegou em casa. Também é simples transferir algum dinheiro no banco ou pagar uma conta via internet.
Que mais?
Não há duvidas, tudo está ficando muito simples em nossa vida.
Tudo está mudando rapidamente.
Usos e costumes, também!
Bens materiais ou imateriais que tinham valor ontem, simplesmente já não valem muito nos dias de hoje e, amanhã, poderão não valer nada... passou, já era...pode ser descartado! Ou deletado?
Mundo, mundo vasto mundo, se eu me chamasse Simplício viveria bem melhor, sem reclamar, acomodado, na fôrma... feliz. Mas seria uma solução, não uma rima.
Ocorre que o mais simples que experimentamos hoje, é conseqüência do avanço científico e tecnológico que possibilitou o surgimento dessa modernidade e do modelo econômico que estamos construindo mas que não tem beneficiado a maioria da população. Ou tem? É um modelo complexo, que procura sempre simplificar as coisas, transformando o homem em mais uma máquina de produção... e de consumo.
É um modelo que exige cada vez mais conhecimentos (o que não é um mal) e adestramento do ser humano para a execução de tarefas mais simples ou mecânicas, mas programadas ( o que não é um bem ).
Para preservá-lo – o modelo – somos, ou estamos sendo treinados para agir ou reagir como convêm a determinados grupos (de pessoas, econômicos, sociais, educacionais, nacionais ou internacionais ) ou seja, aqueles que têm maior poder, e o exercem para consolidar o modelo que lhes convêm. Assim é que, a todo custo, (todo custo) através da mídia, da educação, dos processos de produção, de políticas públicas, etc. aperfeiçoam o modelo e, consequentemente, o processo de dominação.
Protagonistas que somos, no mais das vezes passivos, de todo esse processo de mudança para o mais simples, também mudamos : nosso comportamento, hábitos , atitudes, conceitos, expectativas, sonhos, modos de agir, sentir, participar, refletir, avaliar fatos e situações vivenciadas e que ocorrem em nosso cotidiano.
Mudamos o nosso jeito de pensar e de viver – o que, em princípio, não é um mal. Mas será que é em prol do bem comum, do avanço civilizatório fraternal, pacífico e prazeroso?
Para acompanhar esse processo de avanço surgem novas necessidades e novas funções no mercado de trabalho. Novos produtos, conceitos ou valores são oferecidos diariamente para o “consumo” da população.
Conscientemente ou não, todos os organismos ou organizações da sociedade; poder público ou privado movimenta para acompanhar essas mudanças.
Novas bandeiras são desfraldadas.
Governos, partidos políticos, conglomerados econômicos, igrejas...
Novas e atraentes propostas de crescimento e de realização humana.
Novos hospitais, clubes, restaurantes, shoppings, novos armazéns de secos e molhados, digo, supermercados, novos estádios...
Novos espaços residenciais, nova estrutura familiar... novo lar...
Novas modalidades de lazer, novo conceito de lazer, novas emoções.
Novas formas de trabalho adaptadas ao novo tempo e necessidades.
Novos e melhores processos de comunicação e de informação individual ou coletiva. “O mundo em notícia minuto a minuto...”
Novas formas de transmitir conhecimentos.
Mudança em todas as áreas do conhecimento e de relacionamento, integração e entendimento humano.
Mas... porém... todavia, observamos que existem duas
instituições que resistem a esse processo de mudança.
Parece que elas querem manter ou preservar a tradição dos bons e velhos tempos.
RESPEITAVEL PÚBLICO! Sábado à noite haverá espetáculo.
OBA!!!!!!!!!!!
Chegou à cidade o grande circo. Ele atrai e atende aos interesses de todos: crianças, jovens e adultos... e de idosos .
E o grande espetáculo começa: palhaços, trapezistas, domadores, malabaristas, equilibristas, ginastas, mágicos, contorcionistas, comedores de fogo, etc.
Elefantes, tigres, leões, cavalos, cachorros, vendedores de pipoca, amendoim, guaraná, maçã do amor... fotógrafos; tudo como sempre foi! O espetáculo continua!
Foi uma tarde prazerosa, alegre para todos.
Nada como recordar aos velhos e bons tempos de criança que não voltam mais
Preservar a tradição artística e o sonho é o principal objetivo do circo. Ele resiste ao tempo, aos novos tempos e às mudanças que ocorrem cotidianamente nesse nosso ”novo mundo“.
O circo precisa permanecer com o seu espetáculo tradicional para poder “matar a saudade,“ para mostrar hoje, o que era o divertimento o lazer e a alegria de ontem. Ele deve resistir a todo processo de mudança, deve continuar como sempre foi.
A outra instituição, com as exceções de praxe é a...ihihih...! pois é...
SENHORES ALUNOS, amanhã não vai haver aula!
OBA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Infelizmente a escola é outra instituição resistente às mudanças.
Ela deve atender às crianças, adolescentes jovens e adultos com currículo adequado às diversas faixas etárias ou fins a que se propõe.
Entretanto, com as exceções atuais ou históricas, verifica-se que essa instituição não tem conseguido responder satisfatoriamente, com agilidade e eficiência, às solicitações dos segmentos a que se destina nem às demandas da nossa sociedade. Se o circo deve permanecer como sempre foi para corresponder aos anseios dessa sociedade, a escola,
ao contrario, deve avançar constantemente para atingir seus objetivos, possibilitando e implementando o engajamento e a formação das gerações mais novas para os novos tempos que estamos vivendo.( “ pleno desenvolvimento do educando e seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho “ ).
Cabe a ela, não apenas acompanhar e aceitar as mudanças como inevitáveis, mas também exercitar a análise crítica sobre as suas causas e implementar as melhores respostas que possam beneficiar a nossa sociedade.
Porem, temos observado no quadro negro escolar, sérios conflitos que tem dificultado, ou impedindo a construção de respostas curriculares eficazes. Profissionais mal remunerados, desanimados, desprestigiados, desvalorizados, desorganizados com baixa alto-estima... sem norte.
Alunos..., elevado número, desanimados, desiludidos, agressivos, desinteressados por um currículo que não responde às suas expectativas. Baixo nível de aproveitamento... repetência, abandono escolar e baixo nível de aspiração e perspectivas para um futuro melhor.
Pais preocupados, mas esperançosos, confiando, ainda, na escola: há outra alternativa?
Administradores ou governantes arrogantes, prepotentes, “donos da verdade” ( a deles ) “certos do certo” ( o deles ), não exercitando o diálogo trabalhoso mas construtivo e necessário,
com os maiores interessados e implementadores da trabalhosa docência e aproveitamento escolar consequente. (Professores, funcionários da educação, pais de alunos, comunidade onde a escola está inserida, empresários. comunidade acadêmica, etc. )
Que mais?
Que fazer? Por onde começar... RESPEITAVEL PÚBLICO?
Parece que estão nos clicando com o controle remoto do autoritarismo ou da intimidação. Estão deletando a nossa competência e a nossa capacidade de participar, cooperar ou influenciar o processo de decisões conseqüentes.
Parece que estão nos colocando no freezer da propaganda enganosa e congelando a mossa vontade de refletir, propor e decidir.
Parece que estão nos colocando no micro ondas e cozinhando lentamente a nossa dignidade.
Parece que estão nos permitindo falar apenas através de um telefone celular clonado, que repete sempre a mesma mensagem :” no momento não podemos atender, deixe o seu recado que retornaremos quando pudermos “.
Será que não estamos participando do grande espetáculo de um mundo cada vez mais simples, feito sob medida para nós.
Parece até que estamos vivendo uma grande comedia, montada para que aceitemos acriticamente o mais simples, o menos trabalhoso e todas as informações e conhecimentos que deixam chegar para nós.
Somos levados a pensar ( cuidado!) que não podemos produzir novos conhecimentos ou encaminhar novas soluções conseqüentes. Assim, cria-se no ambiente escolar, um ambiente altamente negativo e conflitante que desestimula a participação. Surge então, não poucas vezes, a solução mais simples: encontrar alguém ou um PAIZÃO para solucionar e resolver por nós, tudo o que está errado.
Pode ser até que, algumas idéias que estamos tendo com a leitura deste texto, sejam logo mais consideradas um simples e-mail, fácil de ser deletado ou colocado na lixeira.
Será que não podemos reagir e propor mudanças estruturais consistentes para a educação? Ou tem que ser assim mesmo: “Deixa a vida me levar, vida leva eu”
Dá até pra desconfiar que estão (quem?) querendo nos transformar em SIMPLÍCIOS.
É isso!