

Meu Bairro
Minha cidade, dizem, não é muito grande, mas todos falam bem dela. É uma cidade tranquila, boa para se morar. Tem até bonde para transportar os moradores.
Os bondes são uma característica da cidade. Ao meio dia e a tarde, era comum vê-los cheio de gente: Trabalhadores que voltavam das fábricas e se apertavam nos estribos. Não sei como o cobrador conseguia cobrar todos eles.
O bonde dois, da Vila Neri, nos levava, eu e a minha mãe, do bairro até o “outro lado” da cidade, na Rua General, para fazer compras nas lojas de tecido, botões e outros apetrechos – lojas de armarinho - necessários para fazer roupa.
Nossa roupa, quase toda ela, era feita em casa ou pelas costureiras conhecidas do bairro.
Naquele tempo, não havia, nas lojas, roupas feitas, prontas para se experimentar e vestir.
Eu não gostava quando mamãe me mandava buscar na costureira, dona Filó, algum vestido das minhas irmãs. Era muito chato e eu era muito acanhado.
Em frente a minha casa tinha um campinho, o quintalzão, cheio de mangueiras. Manga espada, manga rosa, manga coquinho e manga bourbom, que meu pai pedia para eu subir na árvore e apanhar aquelas que estavam “de vez”. Havia também uma manga que ninguém gostava. Nós a chamávamos de manga fedorenta.
O quintalzão era o local onde a meninada se reunia para jogar bola e combinar alguma arte. Arte de criança. Como fazer canudos das folhas de mamoeiro, soprar canudinhos nos cachos de abelhas e sair correndo para não levar alguma ferroada. Azar de quem estivesse passando por perto.
Era um tempo muito bom que só era interrompido quando nos chamavam para tomar banho para irmos à escola.