

Mariana
Nada melhor que o tempo para acertar os desacertos.
Mariana foi se aproximando de mansinho, sem pressa, sem fazer barulho: estava ressabiada, preocupada.
De longe avistou o rancho do Tião e sentiu um aperto no coração: como ele irá me receber, pensou?
Estava tudo tranquilo. Um bando de rolinhas fazia algazarra nas moitas de capim da estrada.
Atentou para os ouvidos e não escutou latidos do Torresmo, cachorro que fazia companhia pro Tião e fazia festa, latindo muito e avisando que chegou visitas.
Estava tudo muito quieto.
Mas Mariana foi se achegando até a varanda do rancho. Ouvidos atentos...
Girou a tramela, abriu a porta e entrou na casa que fora dela onde ela tinha sido tão feliz.
Sentiu o cheiro de flor do campo e o aroma da saudade de antigamente.
De repente tudo lhe pareceu familiar. O tempo não passara e a distância não existira.
Olhou e viu sobre a mesa um punhado de espigas de milho verde. Tião gostava do virado de milho que ela fazia.
Não perdeu tempo, e logo acendeu o fogo no fogão de lenha.
A lenha estalava e enchia do bom cheiro de resina toda casa. O rancho ganhou vida.
Foi até a tulha pegar arroz, feijão e um pedaço de carne seca.
Mariana então se lembrou do sofrimento no garimpo. Era dia e noite cavoucando a terra ou entrando na água fria com a batéia. Graças a sua força de vontade conseguiu se livrar daquele inferno e pode voltar à íntegra para o lugar do qual nunca devia ter saído.
O virado estava pronto e o arroz cozido, feijão demora um pouco mais.
Tião vinha chegando quando avistou fumaça na chaminé do rancho.
Torresmo saiu desembestado e correu para o rancho, entrou e podia se ouvir os latidos de alegria e festa.
Tião pensou: será que Mariana voltou?
E correu para o rancho.
E viu Mariana.
E se abraçaram.
E se gostaram.
E se perdoaram.
E ficaram juntos para sempre.