

Tião
Tião era um caboclo alegre
Morava sozinho com Torresmo seu cachorro de estimação, em um rancho pras bandas da invernada do Zé Côco.
Fim de semana dava uma chegada na venda do Pitoco pra comprar uns mantimentos de uso na semana, depois aparecia no boteco do Isidoro, para um dedo de prosa.
Ele animava qualquer conversa e os causos que contava chamava atenção de todos.
Eram historias verdadeiras, dizia ele!
-Então vocês não sabem oque aconteceu com nhá Barbina?
Ela abandonou a casa do Zeca e foi morar na cidade com o Laurindo Pé de Cabra. Disse que na cidade tem mais “ curtura.”
E a conversa se alongava até que Seu Isidoro avisava que já era tarde e tinha que fechar o bar.
Nas festas da paróquia ele animava o baile com sua sanfona de quatro baixos. Ninguém ficava parado, todos procuravam formar um par pra dança.
Lá por volta da meia noite, quando pessoal já estava cansado e os pares procuravam um cantinho pra prosear... confidenciar e combinar a volta para casa, Tião pegava a viola e começava a cantar. Voz meio rouca, devagar, sem pressa, e as canções tristes saiam com jeito da saudade de um tempo passado que já tinha ido.
Bem agarradinhos muitos pares voltaram pra dançar no salão. E se gostaram e se amaram.
Tião via tudo e se recordava do bom tempo que morou com Mariana, cabocla decidida e correta.
Um dia ela saiu de casa e disse que ia pras Gerais em busca de ouro. Ela sonhava com uma vida mais rica, de mais abastança Vida que Tião não podia dar.
Mas Tião esperava. Quem sabe, um dia, quando bater a saudade das coisas simples que tinham na roça, ela volta.
E Tião cantava, cantava com saudade de Mariana!
Somente Torresmo entendia sua tristeza e, calado, lhe fazia companhia.
Tião tinha esperança
Tião esperava ser feliz novamente.